TEATRO NA ESCOLA

Uma breve introdução sobre a prática teatral na escola
Busca-se neste texto apresentar algumas reflexões sobre a prática teatral no cotidiano escolar do ensino fundamental e ensino médio, às culturas, saberes e fazeres que dialogam com esta prática e, com isso, analisar a situação da arte-educação na área teatral nos espaços/tempos escolares.
Falar sobre teatro como perspectiva de ensino e aprendizagem no sistema educacional brasileiro, ainda é, afirmar a importância dos processos de criação, que não se restringem ao teatro, mas referem-se à todas as atividades artísticas que são desenvolvidas na escola. Porém, questões que não são recentes problematizam a função da arte-educação, sua aplicabilidade e função no contexto e cotidiano escolar.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, temos uma proposta que atende, ainda que deficientemente, a necessidade das experiências estéticas, sensoriais e criativas no Ensino Fundamental e Médio, colocando para isso a obrigatoriedade das disciplinas de Artes na matriz curricular do programa pedagógico das escolas. Sobre os PCNs, Barbosa (2003) afirma que “no que se refere às orientações e propostas contidas nos referidos documentos, particularmente nos PCNS, é possível que poucas saiam da página impressa” isso se deve ao grande número de propostas que fazem efeito, mas não realizam aquilo que se propõem. Desta forma, afirma a autora que:
Os PCNs estão resultando muito pouco. Nunca fui defensora de currículos nacionais, o Canadá resistiu à globalização neoliberal que os ditou, nunca produziu currículo nacional e tem hoje um sistema educacional que é um dos mais eficientes do mundo. (2003, p.14).
Deve-se, portanto, com as devidas proporções, retirar dos PCNs da área de Artes o que pode beneficiar o nosso deficiente sistema educacional brasileiro, como por exemplo, a utilização da proposta triangular1: fazer, conhecer e apreciar como eixos de ensino - aprendizagem, que cumprem o papel de orientar o arte-educador, no que se refere ao planejamento, metodologia, justificativa, objetivos, avaliação e construção do cotidiano pedagógico da área.
Entretanto, apesar de diversas escolas baianas tanto da rede particular, quanto da rede pública atualmente inserirem em seus currículos obrigatórios a disciplina Artes/ Teatro, algumas questões podem ser observadas: a maioria dessas instituições não possui de maneira clara e coerente a proposta pedagógica para esta área.
Outra questão observada é a ausência de arte-educadores, na rede particular, com licenciatura em Artes Cênicas o que observa Ferraz e Fussari (1995, p. 105) “No Brasil, ainda são poucas as Escolas em que a formação artística e estética de criança e jovens são conduzidas por professores com bacharelado e licenciatura em Artes.”.
Hoje em dia, na rede pública, para prestar concurso, o candidato na área de Artes necessita ter o diploma do curso de Licenciatura, o que é um avanço considerável. E por fim, não se tem também coordenação específica para nenhuma área artística, tanto nas escolas particulares como nas escolas públicas. Essas observações acabam por desencadear outras que são diretamente ligadas ao processo de ensino e aprendizagem.
A realidade da prática teatral ainda encontra-se vinculada às festas cívicas e atividades recreativas. Visto isso, seria possível aplicar a atividade teatral como um fazer próprio, como uma atividade e disciplina que interaja com a comunidade escolar e que tenha um conteúdo particular e específico?
Sobre isso, Japiassu destaca:
As artes ainda são contempladas sem a atenção necessária por parte dos responsáveis pela elaboração de conteúdos programáticos (...) segue concebido por muitos professores, diretores, funcionários, pais e alunos como supérfluo, caracterizado como lazer, recreação ou luxo. (2001, p. 17)
O fazer teatral é uma atividade lúdica que suscita a liberdade, mas não deve estar associada à bagunça, ao deixar fazer, à hora do lazer. É imprescindível que o arte-educador de teatro estabeleça regras e disciplina, pois jogar é aceitar regras. O jogo pressupõe formas e conteúdos a serem desenvolvidos. Segundo Ferraz e Fussari (1995, p. 85), Vygotski discute muito a idéia de que as regras só aparecem quando estipuladas a priori “Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo , há regras – não as regras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária” (VYGOTSKI, apud FERRAZ E FUSSARI, 1995, p.23).
Ao se dizer que a atividade teatral é um exercício que potencializa a espontaneidade, a criatividade, o auto-conhecimento, entre outros elementos, corre-se o risco de cair em lugar-comum. O jogo teatral e o jogo dramático2 (atividades teatrais) na escola precisam ser entendidos como uma atividade cognitiva e progressiva. O jogo passa a ter uma significação prática de descobertas de limites do indivíduo, dando imediatamente estímulos para a superação. Sobre a criatividade, Japiassu afirma que “É um importante aspecto da inteligência humana e via para potencializar a capacidade de resolução de problemas” (2001, p. 21).
O jogo teatral é um caminho que possibilita a descoberta da intuição, da criatividade, do senso crítico e da percepção estética. As regras pré-estabelecidas estimulam o desenvolvimento do raciocínio lógico para resolução das problemáticas sugeridas no jogo. Ou seja, a espontaneidade e a criatividade já são inerentes ao fazer artístico, mas é fundamental estimular o exercício da disciplina e da racionalização através de regras. O importante é que essas ações ocorram sem autoritarismo, e que nelas esteja presente o envolvimento do jogador. Isso se expressa mais claramente nas palavras de Japiassu: “A finalidade do jogo teatral na educação escolar é o crescimento pessoal e o desenvolvimento cultural dos jogadores por meio do domínio, da comunicação e do uso interativo da linguagem teatral, numa perpesctiva improvisacional e lúdica” (2001, p. 32).
Outro dado significativo, que é comumente percebido, refere-se ao fato de que arte-educação, no caso, teatro-educação, não tem compromisso em formar artistas e montar espetáculos O teatro, neste caso, é um instrumento de aprendizado, fato esse que é ignorado ou irresponsavelmente tratado na maioria das escolas.
O processo evolutivo do fazer teatral é a prioridade, mas muitos se perguntam: “Mas como avaliar se não tenho um produto?” O produto nesse caso é o próprio processo que pode atingir estágios de maturidade significativa. É preciso desenvolver as potencialidades criativas dentro de um estágio evolutivo. A avaliação processual necessita, portanto, de aspectos mais concretos e estes aspectos podem ser garantidos através da utilização dos eixos de aprendizagem: fazer, conhecer e apreciar que fornecem a matriz curricular, o essencial para a área teatral, que é a prática do jogo teatral, o conhecimento sobre a História do Teatro, da dramaturgia, dos estilos teatrais e estimular também a apreciação de espetáculos teatrais como possibilidades de conteúdos significativos e evolutivos.
Desenvolver o teatro na escola é contribuir para a construção e formação de um indivíduo capaz de perceber a sua realidade por diversas óticas, além de despertar o senso crítico e estético, educando-o para a criação de juízos que serão atribuídos por ele em relação direta com a sociedade na qual está inserido. Ou seja, mesmo tendo conteúdo específico a ser desenvolvido, a preocupação com o contexto no qual o aluno encontra-se é fator determinante na eficiência das atividades, como afirma Spolin: “Trabalhe com o aluno onde ele está não onde você pensa que ele deveria estar” (1997, p. 09).
A prática pedagógica da atividade teatral requer, além de conteúdo específico, um espaço físico adequado e atrativo para este fazer. A experiência criativa passa pelo prazer, o convite ao jogo passa pelos sentidos, é necessário agradar a nossa visão, é preciso acolher nosso corpo e é importante respeitar nosso olfato e audição. Esse conjunto de fatores estabelece desde já a necessidade de criação de um espaço físico convidativo ao prazer. Infelizmente, a realidade encontrada na maioria de nossas escolas, sejam elas particulares ou públicas, está muito distante desse ideal.
Diante destes aspectos, que mais comumente são problematizados, deve-se questionar: O teatro é uma atividade recreativa? A escola está disposta a abrir mão do produto (peça de páscoa, dos pais, das mães, junina, dentre outras) e investir no processo criativo para a evolução do aluno? Como o arte-educador e sua prática são interpretados pela comunidade escolar (direção, coordenação, colegas professores, funcionários, alunos, pais, dentre outros)? A escola está preparada para oferecer aulas de teatro na sua matriz curricular? Qual a proposta pedagógica da escola para incluir a disciplina? O que faz um artista se tornar também um arte-educador? O arte-educador está preparado para lidar com o cotidiano de uma escola, seja ela pública ou particular? O que um aluno de arte-educação espera da formação acadêmica? O que está deficiente na formação acadêmica? Em que a formação acadêmica pode contribuir para a formação do arte-educador?
Essas são questões básicas para o desenvolvimento de uma prática pedagógica em teatro. Mas o que se espera é que o arte-educador esteja preparado para perceber a atividade teatral na escola como um processo de educação e formação. Segundo Barbosa (1975, p. 90), “Antes de ser preparado para explicar a importância da arte na educação, o professor deverá estar preparado para entender e explicar a função da arte para o indivíduo e a sociedade”. E mais adiante:
O papel da arte na educação é grandemente afetado pelo modo como o professor e o aluno vêem o papel da arte fora da escola. [...] A arte não tem importância para o homem somente como instrumento para desenvolver sua criatividade, sua percepção etc, mas tem importância em si mesma, como assunto, como objeto de estudos (1975, p. 113).
Pretende-se, a partir daqui, investigar a prática pedagógica teatral tomando como base o trabalho desenvolvido (BARRETO, 2002) no/do cotidiano escolar da rede particular com a disciplina Artes/ Teatro do Ensino Fundamental e Médio.

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